sábado, 20 de outubro de 2012

A VACÂNCIA QUE LEVA A VACA P'RO BREJO... Uma criativa aula do Maurinho Adorno com a criativa crônica "COM A VACÂNCIA, A VACA FOI PARA O BREJO ... Qualquer coincidência com fato real É PARA EVITAR OUTROS ACONTECIMENTOS...


Nosso Cantinho O IMPACTO 20.10.2012 Maurinho Adorno

Com a vacância, a vaca foi para o brejo

A noite estava radiante, apesar de pequenas nuvens cinzentas. Nas ruas, as pessoas com semblante de alegria, cumprimentavam os amigos e conhecidos - e até desconhecidos - desejando-lhes “Feliz Ano Novo”. Eram aproximadamente 20 horas quanto Antonio dos Reis chegou à sua residência, na Vila Bordignon, após deixar a festa de confraternização na Enplacon, empresa construtora sediada próxima à sua casa. Abraçou os filhos e a esposa, sentou-se à frente da televisão para assistir ao “Jornal Nacional” e, em seguida, a novela “Avenida Brasil”, seus dois programas diários favoritos, antes de se recolher para dormir. Essa noite seria diferente: ficaria acordado até a meia noite, abriria uma garrafa de champanhe e brindaria com sua família.
O relógio marcava 23,30 horas quando as nuvens escureceram, raios e trovões espocaram e a chuva começou a cair forte, num barulho ensurdecedor. Maria Rita, esposa de Antonio, correu para recolher algumas peças de roupa que à tarde deixou no varal “quarando” e fechou todas as janelas. Ela percebeu que pelos lados do bairro da Santa Cruz, onde nasce o córrego Santo Antonio, o céu enegreceu. Preocupada, disse ao marido:
– Estou com medo, na última enchente um carro caiu no córrego, e morreram quatro pessoas e ele continua sem guard rail em suas margens, disse ela, e foi até o canto da sala acender uma vela para Nossa Senhora Mãe dos Aflitos.
Como naquela noite fatídica, Antonio pegou seu guarda-chuva e foi até as margens do córrego. Viu que a água descia com violência. Em menos de duas horas, por volta da 1h15, o transbordamento já atingia as ruas de acesso em mais de 100 metros; não se avistava mais a avenida, encoberta por mais de um metro de água. A situação era caótica.
Em pouco tempo, carros do corpo de bombeiros chegaram ao local e os policiais iniciaram o processo de evacuação das residências que estavam em situação de risco, com trincas enormes causadas pela invasão das águas. O comandante Pedro Henrique chamou Antonio e falou firmemente:
– Essa situação não é mais de emergência. Vá até a casa do prefeito Carlos Munhoz e peça que ele decrete estado de calamidade pública.
Eram 2 horas quando Antonio acionou a campainha da casa do prefeito. Explicou toda a situação e ouviu:
– Eu não posso assinar. Meu mandato terminou à meia noite. E fechou bruscamente a porta.
Desesperado para cumprir sua missão, Antonio foi até a residência do prefeito eleito Gustavo Rossi e apelou para que ele assinasse o decreto. Mas, teve até certo ponto uma decepção. Gustavo o acalmou e disse:
– Eu vou para lá, agora, para ajudar as pessoas, mas não posso assinar o decreto de calamidade pública: fui eleito e diplomado, mas somente serei empossado às 9 horas de hoje, pela vereadora mais votada, Luzia Duzo. Após, poderei assinar tudo.
Antonio pensou em ir pedir para que o Padre Paiva assinasse o documento, mas foi desaconselhado pelo comandante Pedro Henrique. “Ele é autoridade eclesiástica, não pode interferir na administração pública”, disse. E emendou, “procure o Valter Polettini, ele entende bem dessas coisas”.
Em sua casa, obviamente de pijama, solicitamente Valter recebeu Antonio em sua sala e explicou:
– O que está acontecendo nessa hora é o que chamamos de “vacância de poder”, o Carlos Munhoz não pode assinar porque seu mandato terminou à meia noite, e o Gustavo Rossi só poderá assinar após sua posse, às 9 horas. Nesse caso, o juiz tem poder para decretar estado de calamidade pública.
Eram 5 horas quando Antonio conseguiu a assinatura do juiz e foi para as margens do córrego para entregar o documento para o comandante do Corpo de Bombeiros. No local, deparou que a água baixara e se mantinha apenas entre as calhas do córrego.
Agnelo Franco, patrão de Antonio na Enplacon, estava no local com homens, máquinas e caminhões, ajudando nos rescaldos da tragédia. Antonio disse ao seu patrão sem titubear:
- A vaca foi para o brejo, corri a madrugada toda, mas graças a Deus nada aconteceu de grave. E foi dormir. Feliz da vida por ter sido útil. Ou quase útil.

Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista,
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  • Você e Josué Lolli curtiram isso.
  • Josué Lolli Mauro Adorno Filho, Fantástico texto, só você mesmo pra nos brindar com uma pérola desta. Bom fds abraço meu amigo!
  • Odinovaldo Dino Bueno A diferença esta sempre em quem pensa! Dê a quem pensa uma alavanca que até o globo, lotado, estará fora de perigo! Por isso que o poder nas mãos de quem não pensa, com certeza, dana-se o povo todo e, com certeza, também, aqueles que não pensaram e elegeram errado! 
    Parabéns pela criativa crônica - muito bem ADORNADA, amigo Maurinho - de antigos pleitos eleitorais. Pois em sua exposição, sem impor futuras decisões, ensinou muito ... DURA LEX - SED LEX (dura lei, mas é lei!) Só devemos pensar antes de eleger... Vamos inserir esta educativa crônica no saberladino.blogspot.com e, com certeza, no decorrer dos anos, vários acessos vamos ter, os quais estaremos reeditando semelhante outras relíquias que temos registradas da sua rica mente, com a gente!

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