Após um afastamento forçado de 20 anos do cenário enxadrístico mundial, o ex-garoto prodígio e primeiro Grande Mestre brasileiro volta às disputas internacionais, em uma combinação precisa de superação e sucesso.
A vida de Henrique Costa Mecking, carinhosamente apelidado no Brasil como Mequinho, pode ser descrita utilizando-se alguns dos termos próprios do jogo de xadrez.
Nascido em 23 de janeiro de 1952, na cidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, Mequinho fez sua “abertura” aos cinco anos, aprendendo a movimentar as peças com sua mãe, Maria José Costa Mecking. É nessa época, entre os seus primeiros “lances” na vida, que Mequinho desponta para as competições. Aos sete anos recebe o prêmio de vice-campeão de Pelotas, atrás apenas de Carlos Rodrigues Peixoto, na época, tricampeão gaúcho e vice-campeão brasileiro. Em mais cinco anos de “esforço tático”, alcança o primeiro lugar no campeonato pelotense e, de quebra, vence o campeonato gaúcho.
Daí em diante, o garoto prodígio do xadrez transforma-se num “peão passado”, que nenhum peão contrário consegue deter, seja em competições locais ou nacionais. Sagra-se campeão brasileiro absoluto aos 13 anos e, no ano seguinte, em 1966, ganha o título de campeão latino-americano. Aos 16 Mequinho já integrava, ao lado do cubano Capablanca, do espanhol Pomar e do norte-americano Fischer, o clube dos mais precoces enxadristas do século XX, batendo dois recordes: foi o mais jovem jogador a vencer um campeonato continental e ainda o mais jovem mestre internacional da história. Tinha apenas 15 anos de idade quando recebe o título de Grande Mestre Internacional (G.M.I) de Xadrez, título máximo outorgado pela FIDE ("Fédération Internationale Des Eches", entidade máxima do enxadrismo mundial).
Tal marca desencadeou uma “ruptura” de enxadristas da América Latina no cenário mundial, até então dominado pelas nações do Hemisfério Norte. No início da década de 1970 Mequinho, aos 21 anos, “captura” uma vaga no Torneio de Candidatos ao Título Mundial, graças à sua excelente “movimentação” na vitória invicta no Interzonal de Petrópolis, em 1973. Como vencedor de dois interzonais, Mequinho joga matches contra Viktor Korchnoi, em 1974 e, contra Lev Polugayevsk, em 1977. Em 1978 Mequinho atinge a pontuação de 2635 pontos no ranking da FIDE: agora ele é o terceiro melhor enxadrista do planeta, atrás apenas de Viktor Korchnoi (o vice-campeão mundial) e de Anatoly Karpov, o campeão.
Nesse momento, Mequinho sofre o único “bloqueio” que não esperava: contrai uma grave e rara doença chamada miastenia, que ataca e debilita o sistema nervoso e os músculos. “Começou num ponto na garganta e de repente todo o corpo foi atacado. Sentia dificuldade até para mastigar”, lembra Mequinho. A partir, daí seu quadro de saúde passaria pela “combinação” do destino. Uma sucessão de lances, envolvendo perda de algumas “peças”, acarreta uma transformação violenta no tabuleiro de sua vida. Mequinho suporta então 20 anos fora do cenário enxadrístico en prise, vale dizer, como uma peça que pode ser capturada a qualquer momento pelo adversário.
Seu “contra-ataque”, ou seja, sua manobra para se apoderar novamente da “iniciativa”, veio de uma ajuda extra-tabuleiro: no auge da crise Mequinho conhece a Renovação Carismática Católica, a quem credita sua recuperação.
Atualmente, após seu período como “bye” (quando o jogador fica sem adversário, à espera de uma próxima rodada), Mequinho trabalhar para voltar ao topo do ranking mundial. Em 2000 ganha um match contra o seu mais forte adversário no País, o tricampeão brasileiro Giovanni Vescovi. Em 2001 participa do Magistral Najdorf em Buenos Aires, onde enfrenta alguns dos enxadristas da elite do xadrez mundial. Em 2002, Mequinho surpreendente ao representar o Brasil na Olimpíada Mundial de Xadrez, ganhando cinco e empatando três, das oito partidas que disputou, deixando o Brasil pela primeira vez na frente dos Estados Unidos e de Cuba em uma olimpíada enxadrística. E mais recentemente, em 2006, venceu cinco partidas e empatou quatro para conquistar o título de Campeão do Torneio Internacional da Cidade de Lodi, na Itália.
É por essa extraordinária “partida” de vida que o Grande Mestre Henrique Costa Mecking, o Mequinho, além de retomar seu espaço no xadrez mundial, também apóia e incentiva a alternativa de organização do xadrez no formato de liga esportiva. Atual patrono da Liga de Xadrez, Mequinho faz de sua história um exemplo pioneiro para popularizar o xadrez no Brasil.
Por : Carolina Carvalho.
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