- Nosso Cantinho Maurinho Adorno O IMPACTO–18.08.2012A importância da licença em nossa vidaA palavra “licença” está presente em nosso dia a dia e pressupõe, de um lado, uma forma educada de se dirigir às pessoas: nesse caso ela aparece na forma de expressão “com licença”. Aprendemos a usar essa expressão com nossos pais – especialmente com nossas mães. “Antes de sair da mesa, peça “licença” aos que ficarem”, dizia minha Dona Maria, da mesma forma em que, ao nos dirigirmos à residência de um vizinho, existia o ritual: bater palmas ou bater na porta – eram raras as casas que tinham campainha.Ao ser atendido à porta, a primeira palavra era o bom dia, boa tarde ou boa noite, como forma de demonstrar educação. Convidado a entrar, a expressão “com licença” saía da boca naturalmente. Da mesma forma quando, jogando futebol em casa ou na rua, após um chute de “beque de fazenda”, a bola ia parar no quintal do vizinho. Não fazendo o pedido de “com licença”, o vizinho (a) olhava feio e nos dava um “pito”. Éramos educados – até por obrigação.A “licença” tem importância fundamental desde o século passado, quando a Constituição de 1943 criou a “licença-maternidade”, concedendo 94 dias de ausência do trabalho à mulher. Na época, as empresas reclamavam e até substituíam mulheres por homens. Mas, guerreiras como sempre, as mulheres pediram “licença” e foram à luta. Nos dias atuais a “licença” é de 120 dias e há projeto para que aumente para 180 dias.Na esteira da discussão do tempo em que a mulher pode ficar em casa para cuidar dos recém-nascidos, os homens pediram “licença” e arregaçaram as mangas: querem que a “licença-paternidade” vá de 5 para 15 dias. Peço “licença” para comentar: os homens – na maioria dos casos – ficam nesses dias fazendo festas para anunciar os rebentos. Raros são os que lavam a bundinha do nenê ou trocam fraldas no período da “licença”.A cada dia percebo a importância e a necessidade da “licença”. Digo até que ela é indispensável às nossas vidas. Vejamos: dependemos do comércio, sem o qual não podemos adquirir remédios, alimentos e roupas, e eles dependem da “licença de funcionamento” da Prefeitura. De outro lado, pense no mundo atual sem computadores: entra aí a dona “licença”. Essas máquinas funcionam com programas e você, ou os fabricantes, têm que pagar a “licença de uso”.Existe um lugar onde a “licença” deita e rola. É no serviço público. Uma quantidade significativa dessas pessoas tira a “licença para tratamento de saúde” e muitas delas são vistas alegres e saltitantes desfilando pelas ruas do comércio. No período eleitoral, época das convenções, alguns funcionários públicos tiram “licença” para se candidatar e ficam ganhando sem trabalhar até a eleição. Alguns nem pedem votos, e vão pescar. “Com licença”, faça-me o favor!Ontem, no início da tarde, quando escrevia a coluna, tive um pensamento inimaginável: uma Prefeitura cassar a “licença de funcionamento” de uma Santa Casa. O prefeito poderia fazer isso ao seu bel prazer. Mas, ao mesmo tempo pensei: não mais existem coronéis. Ou existem? Mudando de pato para ganso, os malandros que frequentam ônibus, trens ou metrôs apinhados de gente, ao passar atrás de uma mulher não pedem “licença”. Deveriam pedir?Existe um esporte em que a “licença” é indispensável. Para fisgar pacus, pintados e dourados no Mato Grosso, há necessidade de se tirar a “Licença de Pesca”. É lógico que você tem que pagar uma taxa, como na obtenção de outras “licenças” em que o poder público é o concedente. Se você estiver pescando sem o documento, o fiscal invadirá seu barco, apreenderá os peixes, iscas e materiais de pesca. Sem pedir “licença”.A “licença” ou o “com licença” não podem ser levados ao pé da letra. Existem situações e lugares onde eles podem ser negados. Por exemplo, “Licença para Matar” é só no filme estrelado por Denzel Washington. Ninguém dá esse tipo de “licença”. Em meus desvios das normas ortográficas, malandramente digo que usufrui de “licença poética”, sem consultar os mestres da língua portuguesa, pois não teria permissão. Não sou poeta.“Com licença” é higiene. Dia desses estava no Bar do Jorge, aquele especializado em lanches, do Gustavo Donatti, e no corredor de acesso ao banheiro estavam conversando o João Lovo, da Casa de Carnes Lovo, e seus amigos Boró e Edinho. Por quatro vezes pedi “licença” e eles concederam. Juro por Deus: temi que eles negassem. Pedir ou conceder “licença” é educação, antes de tudo.Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista,e ex-diretor dos jornais O Impacto e Gazeta Guaçuana.
domingo, 19 de agosto de 2012
MAURINHO ADORNO - A IMPORTÂNCIA DA LICENÇA EM NOSSA VIDA... Uma crônica para ser lida sempre...
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