sábado, 9 de junho de 2012

MAURINHO - QUE ADORNA NOSSO CANTINNHO:FALA, NESTE SÁBADO, SOBRE O BOM MATREIRO REPÓRTER FOTOGRÁFICO - IZAEL RODRIGUES DE CAMPOS... Cita dois advogados criminalistas de Mogi Mirim, um já falecido...


  • Nosso Cantinho O IMPACTO – 09.06.2012

    O bom e matreiro repórter fotográfico
    Maurinho Adorno

    Naquela noite escura e fria, clima normal nos meses de julho, o expediente em “O Impacto” estava encerrado, após o fechamento das atividades do departamento comercial e o cumprimento da pauta jornalística do dia. Guardamos nossos materiais, e eu com o fotógrafo Izael Rodrigues de Campos saímos para uma cerveja no Bar do Arlindo, em uma das esquinas da praça Francisco Alves. No local, falávamos de tudo, política, futebol, economia e muito sobre a imprensa, especialmente a escrita. Izael trabalhou no início de sua vida como metalúrgico, na antiga Marte Metalúrgica Mogi Mirim e depois de algum tempo descobriu sua grande vocação: as lentes de uma máquina fotográfica. Era repórter fotográfico de qualidade, e estava sempre disposto ao trabalho: para ele não tinha sábado, domingo ou feriado e nem mesmo horário. Depois daquele “happy hour” eu iria para minha casa e ele para o Jardim Ipê, em Mogi Guaçu, onde morava com sua família.
    Em dado momento entra no bar o advogado criminalista Ismael Bertini Montoya para comprar cigarros. Izael percebeu que seu companheiro de banca, Benedito Antonio Franco Silveira, o Dito Aprígio, estava parado na porta com o motor do carro ligado. Esperto me disse: “está acontecendo alguma coisa, eles estão de terno e gravata”. Fui até a porta do carro de interpelei Dito Aprígio e ele disse que estava com um probleminha com um cliente e que precisavam sair. Ele se negou a dar maiores detalhes e tentou despistar, dizendo que o cliente não era de nossa região. Como eram dois dos mais renomados advogados criminalistas da região, o raciocínio foi o de que algo de repercussão havia ocorrido, como prisão de traficantes, assaltantes ou algum assassinato. Não tivemos dúvida, encerramos o “happy hour” e voltamos à redação do jornal para tentar alguma pista do trabalho dos profissionais do Direito. 
    Telefonemas às delegacias de Mogi Mirim, Mogi Guaçu, Estiva-Gerbi, Conchal Espírito Santo do Pinhal e Itapira se tornaram infrutíferos. Não havia ocorrências importantes. Nem mesmo a Seccional de Campinas tinha registro de ocorrência envolvendo algum mogimiriano. O negócio mesmo era ligar para Regional de Campinas e tentar a sorte. Naquela repartição, o plantonista disse que tinha notícia de que havia uma apreensão de cocaína no Posto Tigrão, na rodovia SP-340, mas não tinha detalhes sobre os traficantes. Estava desvendado o mistério. Tínhamos 100% de certeza de que os advogados mogimirianos tinham ido atender algum cliente. Ligamos para a delegacia de Jaguariúna e ninguém atendeu ao telefone. Um telefonema a Pedreira desvendou o mistério: haviam prendido dois mogimirianos com cocaína, mas o atendente não tinha maiores informações. Carro na estrada.
    Ao chegarmos ao gabinete do delegado, Izael iniciou uma sessão de fotos dos indiciados, do delegado e do escrivão, o mogimiriano Atílio Tirapelli, para espanto de Dito e Montoya. Imediatamente, Dito Aprígio pediu ao delegado para que proibisse as fotografias, pois nós estávamos violando a privacidade de seus clientes. Nesse momento entra a vivacidade do repórter fotográfico Izael Rodrigues de Campos. Ele saiu da sala durante a discussão que travei com o delegado, defendendo a liberdade de imprensa. Não houve proibição e nem apreensão do filme. Argumentação aceita, Izael ficou à porta da sala onde estavam sendo prestados os depoimentos. Dados na mão, o negócio era voltar a Mogi. Izael disse que precisava ir à parte externa da delegacia: não entendi. Assim que entrou no carro ele me explicou: “eu fui até o banheiro e joguei o filme pelo vitrô e coloquei um novo na máquina, se o delegado desse uma de autoritário, eu entregaria a ele um filme sem fotos, e eu tinha garantido meu trabalho”. Esperto e matreiro como ele só. 
    Na edição seguinte as fotos dos dois traficantes estavam estampadas na primeira página de “O Impacto”, graças à sagacidade e ao faro jornalístico desse grande fotógrafo, com quem tive o prazer de ter convívio profissional e de amizade por muitos anos. Saudades, Izael.

    Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista,
    e ex-diretor dos jornais O Impacto e Gazeta Guaçuana.

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