Gazeta – 21.06.2012 - M E T R A L H A D O R A Maurinho Adorno
A lição de decência de Erundina
Uma foto, apenas uma foto, em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece abraçando o deputado federal Paulo Salim Maluf foi o bastante para que a também deputada federal Luiza Erundina declinasse do convite feito pelo Partido dos Trabalhadores para concorrer ao cargo de vice à Prefeitura de São Paulo, na chapa do petista Fernando Haddad. A aliança entre o PT de Haddad e o PSB de Erundina fazia sentido, pois os partidos têm uma linha próxima. Como Lula tem na cabeça, além de cabelos, a obsessão de dominar politicamente a cidade, está apelando a tudo e a todos. Se oferecerem uma mandinga ele aceita e até chega ao ponto de se curvar – ou rastejar – a um de seus mais ferrenhos e históricos adversários: Maluf. Esse apoio do PPS de Paulo Maluf custou a participação de Erundina na chapa e, em consequência, a recusa do advogado Pedro Dallari para substituí-la na dobradinha com Haddad.
Nordestina de nascimento – é paraibana – Erundina chegou à capital paulista em 1971 e, nove anos após, foi convidada por Lula a fundar o Partido dos Trabalhadores, o PT. Conhece-o, portanto, há 32 anos. Em 1988, essa assistente social derrotou Paulo Maluf e se tornou a primeira prefeita da mais importante cidade brasileira por sua densidade eleitoral e pela sua pujança industrial e comercial. Conheceu Maluf à época e acompanhou sua vida política uma vez que são colegas na Câmara Federal. Ela e Maluf, sempre foram adversários ferrenhos, não só por terem ideologias partidárias diferentes, como também por ela não aceitar a postura política do homem que nasceu e se projetou nas costas do esquema revolucionário de 1964. “É uma situação muito constrangedora”, disse ela, em relação a um dia ter que estar no mesmo palanque de Maluf. Ambos não são farinhas do mesmo saco.
A imagem patética de Lula, abraçando Maluf na casa deste, deixou perplexos seus adversários e até petistas de carteirinha. Muitos lembraram a época em que ambos eram adversários ferrenhos e o líder petista chegou a chamá-lo de “ave de rapina”, em referência às supostas corrupções nas passagens do antigo arenista pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de São Paulo. Se muitos esqueceram, Luiza Erundina não se esqueceu. Deve também ter vindo à sua mente a classificação dada por Lula a Maluf “símbolo da pouca-vergonha nacional”. Essa postura do maquiavélico Maluf em ver Lula rastejando aos seus pés em sua própria casa, deve ter sido uma resposta às críticas que recebeu do adversário. É comum correr atrás de partidos, por votos ou por tempo no horário gratuito da campanha eleitoral. Mas, essa investida de Lula me permite colocar a frase “diga com quem andas que direi quem és”. Ambos se merecem.
Ao aceitar a disputa como vice de Haddad, Erundina deveria ter pensado melhor com quem iria ter que conviver. Ela sabia que Lula é obstinado e para conseguir seu intento age como um rolo compressor – briga, critica e ao mesmo tempo adula e faz acordos espúrios como esse com a “ave de rapina”. No período do “Mensalão do PT”, a ex-prefeita de São Paulo condenou a grande ação criminosa da quadrilha que desfilava nos corredores do Palácio do Planalto. De qualquer modo, Luiza Erundina, ao renunciar à candidatura de vice, deixou claro para todos nós como deve ser o comportamento dos políticos e de nós próprios – eleitores – deixando de lado ou até repulsando esses políticos de quinta categoria – os compradores e os que são comprados. Vamos pensar antes de votar.
Mauro de Campos Adorno Filho
e ex-diretor dos jornais Gazeta Guaçuana e O Impacto.
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