A aliança entre o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e o ex-governador José Serra (PSDB), forjada na eleição municipal de 2004 e repetida com sucesso na disputa de 2008, começa a dar os primeiros sinais de esgarçamento.

Com 'os dois pés no PMDB', segundo definiu um aliado, o prefeito paulistano tem se aproximado cada vez mais do governo federal e está prestes a integrar a base governista da presidente Dilma Rousseff (PT).

O movimento de Kassab acontece no momento em que Serra aumenta o tom das críticas à gestão Dilma, até como forma de se cacifar na condição de principal liderança da oposição, e tenta uma parceria estratégica com o governador tucano Geraldo Alckmin para fazer frente ao senador eleito Aécio Neves na disputa pelo controle do PSDB.

Herdeiro político de Serra ao assumir a prefeitura de São Paulo em 2006, quando o tucano renunciou ao cargo para disputar o Palácio dos Bandeirantes, Kassab articula a ida para o PMDB pelas mãos do vice-presidente da República, Michel Temer. 'Ele vem com o apoio total e irrestrito do governo Dilma', afirma um peemedebista. 'A única dificuldade é tocar isso com o Serra', desabafou o prefeito a um interlocutor.

Empecilho. Embora Kassab tenha se mantido até agora leal ao padrinho político, inclusive abrigando em seu secretariado serristas 'expatriados' do governo paulista por Alckmin, e o mantenha informado sobre a ida para o PMDB, a fidelidade do prefeito ao projeto tucano no Estado se tornou um empecilho ao futuro político de Serra.

No PMDB, Kassab pretende disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2014. Ocorre que Alckmin é candidato natural à reeleição e não pretende ver o afilhado de Serra disputando espaço com ele nos próximos quatro anos.

De seu lado, em busca da sobrevivência política, num momento em que os aliados de Aécio tentam isolá-lo no partido, Serra procura jogar alinhado com Alckmin. Serristas mais exaltados já falam em uma aliança Serra-Alckmin em 2014 para derrotar o grupo mineiro.

Por essa composição, qualquer um dos dois poderia encabeçar a chapa presidencial. O outro ficaria com a disputa pelo Bandeirantes. Para Kassab, alegam, haveria vaga como candidato a vice-governador ou a uma cadeira no Senado.

De acordo com essa lógica, para manter a aliança com os tucanos, Kassab teria de enterrar o sonho de disputar o governo paulista em 2014. Lideranças do PSDB, no entanto, veem com desconfiança uma aliança Serra-Alckmin. 'Alckmin é de escorpião, não dá para saber nunca o que ele está pensando', diz um dos principais nomes do partido, para quem o governador atua 'com um pé em cada canoa'.