sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CRÔNICA QUE NARRA A TENTATIVA DE AGRESSÃO DE UM DEPUTADO GUAÇUANO A UM SAPIENTE JORNALISTA, APÓS SEU CANDIDATO TER SIDO DERROTADO: LEIA OS AGRADÁVEIS COMENTÁRIOS...




Ossos do ofício,
Miguel Martini tentou me agredir
A eleição propriamente dita já estava finalizada. Nos salões do Cerâmica Clube, em Mogi Guaçu, a junta de apuração trabalhava com as últimas urnas, mas não havia matematicamente um vencedor. Adversários em uma eleição vivida por uma disputa acirrada, Walter Caveanha tinha vantagem até certo ponto folgada sob Hélio Miachon Bueno e, pelas projeções, venceria até com facilidade. Era noite de uma sexta-feira e, com certeza, o resultado final somente seria proclamado no sábado ou no domingo, pela morosidade na apuração com as cédulas de papel. Saí, mas deixei uma instrução ao Laércio Satorres, gerente gráfico da Gazeta.
– Aguarde até a meia noite para imprimir, vou sair e ver se consigo uma repercussão da apuração. Se não ligar até essa hora, comece a impressão do jornal.
Com uma camionete Pampa branca, eu me dirigi à Pizzaria do Odair Toso, à época o ponto de reunião dos políticos. Era comum, às segundas-feiras, os vereadores irem até o local, para discutir os projetos votados naquelas noites e, evidentemente, tomar um chopinho e comer pizzas ou lanches. Obviamente que situação e oposição sentavam em mesas distintas, muito embora em inúmeras vezes as discussões atravessassem os campos, e surgiam os insultos e impropérios.
Naquele ano, o Odair estava estabelecido à Rua Siqueira Campos. Cheguei e, evidentemente, meus olhos estavam voltados a encontrar os correligionários do Hélio. No corredor de entrada, Admir Falsetti, o Bibi, e sua esposa Ana se deliciavam com uma pizza de mussarela. Eles me convidaram à mesa; eu sentei, juntamente com o impressor Enio Donizete Faccio, surdo mudo, que me acompanhava, e começamos uma excelente prosa sobre o momento político. Minha primeira pergunta não poderia ser outra:
– A eleição está definida? Há como o Hélio reverter a vantagem do Walter?
Com a experiência de anos na política e profundo conhecedor do colégio eleitoral da cidade, Bibi foi enfático, “o Walter é o prefeito, não há como mudar o quadro”, disse, explicando que a maioria das seções eleitorais a ser apuradas favoreceria Caveanha. No meio da conversa, entra Miguel Martini, acompanhado da esposa, e vai se sentar nos fundos da pizzaria. Miguel era deputado pelo PDT e estava engajado com unhas e dentes na campanha de Hélio. “Depois irei entrevistá-lo, pensei”.
Miguel deixou o estabelecimento, sem cumprimentar os participantes da nossa mesa. Minutos depois, entrou sozinho e virou a mesa em que estávamos. Era uma mesa de montar, feita de chapa, muito comum à época. Garrafas e pizza rolaram pelo chão. Atônito eu não entendia nada, até que ele, dedo em riste, me disse “nós perdemos a eleição e você é o culpado, vou te bater”. E veio prá cima de mim, completamente alterado.
Não tive saída: como não tinha condições físicas de enfrentar o deputado, saí para a rua e ele atrás. Não fosse tétrica, a cena seria cômica. Eu corria e ele corria atrás de mim e, atrás, alguns amigos tentando evitar uma provável e iminente agressão. Miguel foi futebolista e iria me alcançar, sem dúvida. A corrida desenfreada chegou à Rua Apolinário, quando resolvi circundar um carro estacionado no meio fio. Era a forma de minar o adversário. 
Lico, meu funcionário surdo e mudo, pegou a caminhonete Pampa e chegou para me socorrer. Ao tentar entrar no veículo, quase Miguel me acertou. Além de Bibi, estavam ali tentando apaziguá-lo, seu filho Paulinho, o vereador José Carlos Silva, o Luiz Roberto Montanheiro, o Sapinho, e Wilson Carreiro. Carreiro e Sapinho levaram murros, tapas ou empurrões de Miguel Martini. Uma mulher assistia a tudo pela janela. Em minutos, viaturas da polícia bloquearam as duas pontas da rua. Eu estava a salvo das agressões. 
Entrei na caminhonete, Miguel se desvencilhou dos apaziguadores e esmurrou o retrovisor externo, cortando a mão. Os policiais chegaram e ele disse para me prenderem, porque eu o havia agredido. Obviamente que não me prenderam e nem a ele, pois os policiais amarelaram ante ao deputado. Registrei Boletim de Ocorrência e o fato rendeu matéria na página policial do jornal. 
Eu relembro esse lastimável acontecimento, porque faz parte da minha história. Somente na cabeça de alguém, fora de seu controle emocional, eu poderia influenciar o eleitorado de toda uma cidade. Na verdade, fui um bode expiatório. Coisas da profissão. Perdoei o Miguel. Ele faleceu anos depois.

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