Macarrão disse que Bruno foi o responsável pelo sumiço de Eliza
Foto: Vagner Antônio/TJMG/Divulgação
Após acusar Bruno de ser o responsável pelo desaparecimento da amante Eliza Samudio, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, chorou em seu depoimento no Fórum de Contagem (MG), na madrugada desta quinta-feira, e disse que o ex-goleiro acabou com a sua vida.
"Falam que eu acabei com a vida do Bruno, mas foi ele quem acabou com a minha vida", disse Macarrão, aos prantos, em resposta à juíza Marixa Fabiane Rodrigues, que perguntou se o réu se sentia mais aliviado por contar sua versão sobre os acontecimentos.
"Eu guardei isso tudo por dois anos, quatro meses e 22 dias. Eu não aguentava mais, não sou esse mostro que todo mundo colocou, não sou traficante, não acabei com a vida dele. Se tem alguém que acabou com a vida, foi ele que acabou com a minha vida", disse.
Em seu desabafo, Macarrão disse ainda ter medo de morrer: "sei que seria agora 'x9', sou um arquivo vivo. Tenho medo de perder tudo que faz parte da minha vida. Eu tenho medo de morrer, mas acabou isso tudo. Ninguém vai me colocar como mostrou, eu não sou. Eu pedi de coração para ele (Bruno). Conversei como homem, pedi para não fazer, todos acham que fui eu. Todos acham que sou eu, não sou. Não sou mostro. Trabalhei no Ceasa, puxava carrinho e virei conferente por competência. Eu não sou mostro, nem traficante. Eu temo por minha vida."
O réu comentou ainda as insinuações de que era homossexual e tinha um caso com Bruno. "Sim, movimento ação de indenização (contra o ex-advogado Rui Pimenta, que iniciou as insinuações). Ele inventou a história, o que passei dentro do sistema. Eu não sou homossexual, eu acredito que tinha amizade forte e respeito. Ele ia fazer a tatuagem também. Eu fiz, não tem nada a ver isso aqui. É uma letra de um pagode, do grupo 'Fundo de Quintal'. Várias pessoas iriam fazer, não vão assumir. Eu respeito. Sei que acabou a amizade, me arrependo. Se eu fosse homossexual não teria vergonha, mas o que passei no sistema nada vai pagar, o que fui humilhado dentro do sistema por homossexualismo", disse.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola seriam levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores. No dia 19 de novembro de 2012, foi dado início ao julgamento de Bruno, Bola, macarrão, Dayanne e Fernanda.
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