domingo, 3 de abril de 2011

NUNCA ANTES ABAFARAM TANTO: MENSALÃO, AGORA, JÁ TEM RELATÓRIO...

BRASÍLIA. Relatório final da Polícia Federal no caso do Mensalão do PT enviado ao Supremo Tribunal Federal confirma o pagamento de propina a deputados e desvio de dinheiro público para custear campanhas eleitorais. O documento de 332 páginas, divulgado pela revista Época, revela que Freud Godoy, amigo e ex-segurança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, admitiu ter recebido dinheiro do valerioduto, esquema comandado por Marcos Valério.

Em depoimento à PF, Freud atesta que os R$ 98 mil que sua empresa, a Caso, recebeu em janeiro de 2003, já no governo Lula, eram para pagar os serviços que ele prestou para a campanha petista à presidência em 2002. Segundo conta a revista Época, no depoimento, Freud disse que o dinheiro pagou parte da conta de R$ 115 mil por serviços de "segurança, alimentação, transporte e hospedagem de equipes de apoio".

Em setembro de 2006, quando veio a público a informação sobre o pagamento de Marcos Valério - o operador do mensalão petista-, Freud não deu explicações. Marcos Valério também evitou detalhar o motivo do pagamento. À PF, Freud disse que procurou a direção do PT em 2003 para receber pelos seus serviços. Dirigentes do partido teriam dado um número de telefone para que ele acertasse o pagamento. O telefone era da SMP&B, de Marcos Valério. Freud sustentou que não conhecia Valério e não quis revelar o nome dos dirigentes petistas.

Ainda segundo a revista Época, o ministro do Desenvolvimento do governo Dilma, Fernando Pimentel, também é citado no relatório da PF como sendo um dos beneficiários diretos do mensalão. Os investigadores identificaram um pagamento, em 2004, de R$ 247 mil da SMP&B para Rodrigo Barroso Fernandes, tesoureiro da campanha de Pimentel à prefeitura de Belo Horizonte. Intimado pela PF, Rodrigo Fernandes se negou a responder as perguntas. À revista Época, o ministro Pimentel disse que não falaria sobre o caso porque não conhece o relatório da PF.

Ainda segundo a revista, o texto produzido pelo delgado Luís Flávio Zampronha assegura que recursos do Fundo Visanet foram repassados para empresas de Marcos Valério e de lá abasteceram políticos da base do governo petista. Segundo a PF, isso só foi possível porque a verba publicitária do Banco do Brasil, que em parte era operada via esse fundo, não tinha fiscalização adequada.

No total, as empresas de Valério receberam de contratos com o governo Lula R$ 350 milhões, sendo que R$ 68 milhões tinham como origem o fundo Visanet. "O adiantamento de recursos vinculados ao Visanet configurava, assim, uma das principais fontes de recursos do esquema montado por Marcos Valério para o financiamento político e consequentemente montagem de redes de influência, vez que o desvio desta verba era facilitado pela total inexistência de qualquer contrato formal para sua execução, bem como pela ausência de formalização de instrumento, ajuste ou equivalente para disciplinar as destinações dadas aos adiantamentos oferecidos às agências de publicidade", diz o relatório da PF, divulgado pela Época.

Outro alvo da investigação policial é o banqueiro Daniel Dantas. Segundo a PF, ele teria repassado pelo menos R$ 3,6 milhões ao valerioduto por intermédio da BrasilTelecom. Os policiais ouviram funcionários da tele que relataram que contratos da companhia com empresas de Marcos Valério foram feitos às pressas, e não haveria comprovação de prestação de serviços. Dantas confirmou à PF que recebeu do PT um pedido de US$ 50 milhões, mas alega que seu grupo Opportunity não pagou. Sobre os contratos da BrasilTelecom, não deu explicações. "Os contratos... foram celebrados apenas com objetivo de conferir fachada de legalidade necessária para a distribuição de recursos, na forma de doações clandestinas ou mesmo suborno, negociado ao longo de dois anos entre os representantes do grupo Opportunity e do Partido dos Trabalhadores, sempre com a indelével intermediação do empresário Marcos Valério", diz o texto da PF.

O relatório policial vai sustentar a alegação final que o Ministério Público Federal fará no caso do mensalão no STF. O documento cita ainda ajudas de campanha para os deputados Vicentinho (PT-SP) e Lincoln Portela (PR-MG) entre outros. Há ainda referência a pagamentos das empresas de Marcos Valério a políticos do PSDB como o ex-ministro Pimenta da Veiga (segundo ele, por serviços advocatícios). O relatório também menciona pagamento de R$ 661 mil do governo de Minas na gestão do tucano Aécio Neves para a SMP&B. Segundo a PF, R$ 630 mil foram repassados ao Instituto Nacional de Moda e Design, In-Mod para organização do festival Minas Cult. A PF afirma que foram apresentadas notas fiscais duplicadas para justificar a despesa. A assessoria de Aécio informou à revista Época que o dinheiro só foi liberado após comprovação de que o contrato com a In-Mod foi cumprido.

No processo que tramita do STF são acusados 38 pessoas, entre elas o ex-ministro José Dirceu apontado como chefe da organização criminosa cujo operador financeiro era Marcos Valério. O caso só deve ir a julgamento no plenário do STF no próximo ano. O relator, ministro Joaquim Barbosa, já disse que no segundo semestre deve preparar seu voto. Antes de marcar da data do julgamento, o processo ainda tem que passar pelo ministro-revisor, Ricardo Lewandowski.

Nenhum comentário: