domingo, 27 de fevereiro de 2011

OTIMISTA VISÃO DO ENVELHECIMENTO: A ARTE DE VER O ENVELHECER...

cleofasdefariasreis@hotmail.com (endereço do sapiente colaborador desta relíquia para nossa reflexão...)

O homem estava de bermuda, espichado em confortável poltrona. Mudou de posição, dobrando a perna direita e apoiou a canela na coxa esquerda. Olhou por acaso a panturrilha (nome respeitável da batata da perna) e foi levado a elucubrações existenciais. Porque, suspensa como ficou, mostrou-se flácida, sem a firmeza de outrora, e exibindo enrugamento como se denunciasse a passagem do tempo.
Enfrentou estoicamente a observação, dizendo-se: "quem não quer envelhecer que dê um jeito de morrer cedo". Ao invés de ter reação crítica ou jocosa sobre a incômoda aparência, até quis beijar o local alarmista. Seria um agradecimento simbólico aos serviços que o membro inferior lhe prestara em tantos anos de vida. Mas desistiu do ato justamente por causa desses anos, pois poderia sofrer torção ao dobrar a coluna.
Prevenido ao evitar enroscar-se, deu-se por satisfeito enviando à panturrilha o beijo com a mão. Entretanto, não ficou só no simbolismo: agradeceu-lhe intimamente, lembrando-se de que o acompanhara, juntamente com a perna esquerda, desde antes mesmo de seu nascimento, ainda no útero materno.
O que teria sido dele sem aquela perna, de início lhe possibilitando engatinhar e dar os primeiros e trôpegos passos? Aquela batata (ou barriga da perna, como diz o Aurélio) que agora lhe anunciava a cronologia da vida, foi essencial também nas brincadeiras da fase de criança, na prática do esporte na adolescência e nos caminhos que trilhou, como jovem e adulto, em busca de um espaço de sobrevivência na sociedade.
O estado daquele trecho epidérmico inesperadamente lhe chamou a atenção porque nunca o examinara detalhadamente, embora viesse comprovando idênticos sinais em outras partes do corpo quando se mirava no espelho: os pés-de-galinha em redor dos olhos, a papada do pescoço, a flacidez nos braços. Assumiu-se e lançou um desafio: "atire a primeira pedra quem, chegando à idade madura e à velhice, escapar do processo de senectude".
Dizem uns filósofos que a fatalidade da morte é a maior angústia do homem. E segundo Shakespeare -que, por estar na história como dos maiores dramaturgos e poetas, não deixou de ser um deles- somos admiráveis como o único animal que consegue rir mesmo com a consciência do nosso fatal desaparecimento. Se o homem vive dessa forma, pode-se sugerir que ele responda com o riso ao constatar que está envelhecendo.
Não que tenhamos de gargalhar ao descobrir cada novo atestado da Terceira Idade. Sair para a vida, no entanto, pode ser uma forma de riso, como faz hoje crescente número de idosos. Os antigos gregos afirmavam que a vida era um prêmio, nos concedido pela natureza, uma antecipação da máxima romana do carpe diem (aproveite a vida). Não custa lembrar que milhões de pessoas, por motivos diversos, a tiveram e têm ceifada precocemente, enquanto bilhões em potencial sequer nasceram, pois fracassaram da disputa ao ato da fecundação. Nós outros, por questão de sorte, tivemos o privilégio de ser gerados e nascer para o mundo.

Um comentário:

Ivone disse...

É BEM MELHOR MESMO VER A VIDA ASSIM, DE FORMA QUE NÃO TENDO MESMO OUTRO JEITO SENÃO ACEITAR A VELHICE QUE PODE SIM TER MUITAS VANTAGENS!!!
VANTAGENS EM PODER APROVEITAR MAIS O TEMPO QUE PORVENTURA ESPERAMOS AINDA POR VIR!!!
HÁ E MUITAS FORMAS DE VIVER BEM MESMO ESTANDO ENVELHECENDO.
SÓ NÃO ENVELHECE QUEM MORRE JOVEM, PORTANTO VAMOS NOS ALEGRANDO COM A VIDA QUE TUDO DÁ OU TUDO TIRA SE PRECISO FOR, PORTANTO...!!!
EU AINDA ESTOU NA "ADOLESCÊNCIA DA ENVELHECÊNCIA" RSRSRS RINDO DE TUDO E VENDO TUDO MUITO BEM E LINDO!!!
AINDA BEM, PORTANTO FAÇAM COMO EU E VIVAM CURTINDO A VIDA!
CURTA A VIDA QUE A VIDA É CURTA!!!
IVONE POEMAS
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