De olho nos sucessivos informes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre os esforços para evitar um acidente nuclear de grandes proporções no Japão, o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Gonçalves, disse ontem que os danos em usinas japonesas podem abalar o programa nuclear brasileiro.
Retomado no segundo mandato do então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, com a decisão de levar adiante as obras de Angra 3, o programa prevê a construção de mais quatro usinas no país até 2030. "O debate sobre a segurança das instalações vai ressurgir, com resistências, mas espero que o programa não seja paralisado", afirmou Gonçalves.
Subordinada ao Ministério de Minas e Energia, a Empresa de Política Energética informou ontem que, por ora, está mantido o cronograma de construir mais quatro usinas no Brasil, além das três usinas de Angra dos Reis (RJ). As novas usinas devem entrar em operação nos próximos 19 anos.
A presidente Dilma Rousseff não dá prioridade ao assunto. Mantém sem data marcada uma nova reunião da cúpula do governo para definir a localização dessas quatro usinas - duas delas no Nordeste e outras duas no Sudeste - e há sinais de que o assunto ficará fora da pauta do Planalto, pelo menos até as consequências do terremoto japonês ficarem mais claras.
"A situação é preocupante", reconhece Gonçalves. Mas ele viu nos relatos da AIEA, ainda com base em informações precárias, uma chance de os reatores nucleares resistirem.
Estudo recente feito pelo governo sobre a oportunidade de o país exportar urânio enriquecido para geração de energia elétrica considera um cenário pessimista para o negócio "no caso de algum incidente nuclear que reavivasse a rejeição popular a esse tipo de energia".
Esse cenário foi considerado pouco provável no estudo, que apontava grandes chances de crescimento do número de usinas nucleares no mundo, estimuladas sobretudo pela necessidade de gerar energia com baixa emissão de gases de efeito estufa.
Debate nos EUA. A crise nuclear no Japão também ressuscitou nos EUA o dilema da convivência com 104 usinas - a maioria próxima do limite de 40 anos de operação - e abriu uma polêmica em torno do plano do governo americano de construir 20 novas centrais. O episódio trouxe de volta o mais grave acidente do gênero nos EUA - o derretimento do reator da usina nuclear de Three Mille Island, na Pennsylvania, em 1979. Houve vazamento radioativo e cerca de 140 mil pessoas foram retiradas da região.
Segundo Arnie Gundersen, engenheiro da área nuclear, 23 reatores nos EUA são iguais aos de Fukushima. Com base em documentos oficiais, Gundersen afirmou que a Comissão Reguladora Nuclear admitiu que as usinas com esses reatores jamais deveriam ter recebido sua licença.
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