“Não”, advérbio divino!
Maurinho Adorno
Para os que acreditam em Deus, o “não” é divino. É um advérbio presente em 7 dos 10 mandamentos das “Tábuas da Lei”, escritos e entregues por Deus ao profeta Moisés. Acho que os criminosos faltaram às aulas quando foram ministrados o 6º. e o 8º., respectivamente, “não matarás” e “não furtarás”; aliás, em muitos casos matam dois coelhos com uma cajadada, ao furtar e assassinar as vítimas. Pensando bem, eles não são diferentes de muitos políticos – estes, com suas ações, furtam e matam os pobres nas portas dos caóticos hospitais públicos do país, e as crianças na sede do saber.
Eu tenho um amigo – obviamente vou omitir seu nome para não causar constrangimento – em cujo dicionário da vida o advérbio “não” era inexistente. Nos primeiros meses de seu casamento, sua esposa o convenceu a comprar um Ford Ka, para que ela desse suas voltinhas com as amigas. Deveria ter dado um sonoro “não”, evitando o constrangimento de ficar insolvente junto à financeira. Ele já havia errado ao fornecer talão de cheques e cartão de crédito a ela, uma compradora compulsiva. Os conflitos aconteceram e culminaram com a separação. Meu amigo não soube, a tempo e a hora, dizer “não”.
Minha mãe era especialista em dizer “não”. Às vezes me deixava chateado, como ocorria quando meus amigos iam jogar futebol de rua, logo após o almoço, e eu era proibido até que fizesse a lição de casa. Negava a compra de um bom sapato ou uma calça legal, vestimentas usadas por colegas de escola.
Mas, tal qual uma boa mestra, explicava as dificuldades e nos convencia a viver dentro de nosso orçamento. Com o tempo passamos, eu e meus irmãos, a entender as diferenças das classes econômicas e nós mesmos tínhamos o bom senso de não pedir o que ela não podia nos comprar.
As negativas de minha mãe foram importantes como exemplo na criação de meus filhos. Eles sempre entenderam a necessidade de conviver dentro de nossas posses. De outro lado, o mundo consumista nos dias de hoje está fazendo com que os pais comprem desenfreadamente, atendendo aos pedidos dos filhos para suprir a competitividade com os colegas de escola. São tênis de marca, smartphones de última geração e outros apetrechos, gastando um dinheiro que poderá fazer falta no futuro – para o pagamento de uma faculdade, como exemplo. Esses pais precisam aprender a dizer “não”.
Na minha vida eu errei muito por não dizer “não”. Paguei avais em bancos, e alugueis, como fiador, simplesmente por não negar. Em alguns casos, perdi o dinheiro e o amigo. Aprendi. Hoje não aponho minha assinatura em nada que não me diga respeito diretamente. De outro lado, é difícil escutar um “não” e a negativa dói no coração. Uma vez, no Grêmio Mogimiriano, fui “tirar” uma menina para dançar. Eu não a conhecia. Levei um “não” mais doloroso que tapa na cara. Depois dessa, somente convidava as meninas para dançar, após um flerte ou uma piscadinha de empatia marota.
Estou convidando a todos para praticarmos o negativismo sadio. “Não”, aos políticos corruptos de carreira, através de nosso voto; “não” ao preconceito de qualquer espécie; “não” às novelas nocivas que induzem as crianças a sórdidos comportamentos; “não” à violência doméstica; “não” às drogas. Enfim, diga “não” quando você não puder dizer “sim”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário